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Red Hot Chili Peppers reencontram sua “mágica” e celebram o amor

Por: Dowglas Lima Barbosa Sousa


O que você estava fazendo há 16 anos? Como era a sua vida? Em 2006 o mundo era bem diferente. Instagram e WhatsApp não existiam, o Orkut era a sensação no Brasil e o Spotify era só um pequeno projeto que começava a germinar em Estocolmo, na Suécia (e que só seria oficialmente lançado dois anos depois). Além disso, Ronaldinho Gaúcho era o craque do Barcelona.

Foi nesse longínquo contexto que os Red Hot Chili Peppers lançaram o álbum Stadium Arcadium, o último com o aclamado guitarrista John Frusciante. Agora, com a volta de John (e do produtor Rick Rubin), a formação considerada clássica voltou a se reunir – e o fruto desse reencontro é o excelente Unlimited Love (2022).

O disco marca a retomada da sonoridade característica dos Peppers, modificada ao longo dos últimos dois álbuns – que tiveram Josh Klinghoffer como guitarrista: I’m With You, de 2011, e The Getaway, de 2016. Unlimited Love é uma espécie de mistura das diferentes fases que a banda atravessou desde 1983, quando começaram a sacudir plateias e a pular pelos palcos com seu estilo único.

A faixa de abertura e primeiro single, Black Summer, traz um refrão marcante e a forte presença da inconfundível guitarra de Frusciante, com um solo envolvente. Here Ever After lembra a vibe do aclamado álbum Californication (1999): o Red Hot do final dos anos 90 em sua essência. Aquatic Mouth Dance começa com uma linha de baixo funkeada e absolutamente contagiante, com Flea assumindo o protagonismo e dando a continuidade ao agito – que é vertiginosamente suavizado logo em seguida com a balada Not The One, faixa que traz uma excelente performance vocal do frontman Anthony Kiedis.

Mas a calmaria não demora muito, porque Poster Child nos lança em um maravilhoso caleidoscópio rítmico de puro funk e inúmeras referências elencadas por Kiedis: de Led Zeppelin a Duran Duran, passando por Bernie Mac e Judas Priest. A faixa remete aos primeiros anos da banda, as raízes do RHCP. The Great Apes traz maravilhosos backing vocals e um solo absurdo de Frusciante – mostrando que, apesar dos anos de dedicação quase que exclusiva aos experimentos com música eletrônica, continua sendo capaz de estabelecer uma simbiose única com suas guitarras.

It’s Only Natural tem uma cadência deliciosa. Uma das preferidas dos fãs no novo disco. Flea brilha novamente, com John apresentando uma sonoridade que é, a um só tempo, misteriosa e familiar; instigante e relaxante. She’s a Lover tem um clima bem alegre, com uma pegada mais pop, e que compõe bem o conjunto do álbum.

Chegamos ao segundo single: These Are The Ways, que alterna entre momentos melódicos e um refrão mais “pesado”, um diálogo que acontece de forma harmoniosa. Aqui, o baterista Chad Smith mostra toda a sua potência e versatilidade naquela que é, sem dúvidas, uma de suas melhores performances em toda a história da banda. Whatchu Thinkin’ é outra música que merece o adjetivo de “deliciosa”, porque ela é exatamente isso. O Frusciante que todos os fãs aprenderam a amar aparece em diversas “camadas”, nos fazendo viajar em um passeio rítmico com um caminho que é prazeroso justamente por ser muito conhecido e familiar.

Bastards of Light certamente surpreendeu muita gente – a música traz recursos sonoros que são definitivamente frutos das incursões eletrônicas de Frusciante, colocados lado a lado com um refrão melódico e trabalhado com violões. Some a isso uma bridge pesada e cheia de personalidade e voilá – mais uma excelente criação dos Peppers.

Outra interessante mudança de direção é a que acontece em White Braids and Pillow Chair, uma música calma, com um riff que é um deleite – mas que no final puxa para uma levada que é uma espécie de mistura entre o country e surf music. E que dá muito certo, é claro.

A temperatura sobe novamente com One Way Traffic, onde Kiedis explora uma vez mais seu lado “rapper”. A guitarra é uma soma de sonoridades características dos celebrados álbums Blood Sugar Sex Magik (1991) e Californication, para sorte dos fãs. Mais um acerto, que termina com um solo de baixo insano. Veronica, por sua vez, lembra Warm Tape, do também bem-sucedido disco By The Way, de 2002. É outra música cheia de personalidade, que tem como ponto forte as mudanças de tempo e um final épico.

Muita gente não percebeu ainda, mas Let ‘Em Cry tem um dos melhores solos de Frusciante em todo o disco. E se era isso que os admiradores da banda mais esperavam, certamente não ficaram decepcionados. O músico flutua pela faixa de uma maneira completa, em sintonia perfeita com o baixo que permeia todo o conjunto.

Mas isso não é bastante: Frusciante quer mostrar que voltou com tudo. E para isso nada melhor que assumir os vocais nos refrões da ótima The Heavy Wing. A música conquistou os fãs de imediato, figurando em qualquer lista das melhores de Unlimited Love. Um verdadeiro presente para aqueles que esperaram tantos anos pela volta do ídolo (e que até duvidaram que um dia ele pudesse voltar – inclusive este que vos escreve).

Para fechar, Tangelo é o encerramento acústico e uma clara referência a outra faixa com a mesma “função”: Road Trippin’, que fechou Californication. Mais uma faixa inspirada, melódica e convidativa.

Ao celebrar o “amor ilimitado” que sentem ao compor e tocar juntos, Anthony, Flea, Chad e John mostram ao mundo que, apesar do passar dos anos, a mágica da banda continua muito viva. Os Red Hot Chili Peppers reencontraram sua essência e brindaram o mundo mais uma vez com sua inspiração e originalidade. Se sua vida era muito diferente lá em 2006, nada como retomar o que já dava muito certo naquela época, não é?

✳️Dowglas é de Fortaleza (CE) e é Jornalista e Relações Públicas, tendo passado pelo sistema Meio Norte de comunicação, onde atuou como repórter de jornal impresso, portal, rádio e TV. Atualmente Relações Públicas no Instituto Federal do Ceará (IFCE). Fã do RHCP desde 2000.


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