Flea sobre o novo álbum dos Chili Peppers – Spin Magazine
O colunista William Goodman fez uma entrevista com Flea para a revista Spin.
Na entrevista ele fala como foi a mudança na banda, sua viagem com Josh a África e sua experiência como maratonista. Também explica como a faculdade de música que cursou, ajudou na realização dessa novo álbum. A reportagem é muito interessante e vale a pena ler.
Confira a tradução abaixo:
SPIN Interview – Q&A: Flea sobre o novo álbum dos Chili Peppers.
Em 30 de agosto, os roqueiros-funks de Los Angeles, os Red Hot Chili Peppers irão encerrar uma pausa de cinco anos e voltar com seu décimo álbum de estúdio, “I’m With You”. Nós conversamos com o baixista Flea para falar sobre o hiato da banda, a saída do guitarrista John Frusciante (mais uma vez!), e como o quarteto “encontrou outro lado deles mesmos” no processo.
Já se passaram 5 anos desde o lançamento do último álbum do RHCP, Stadium Arcadium. Vocês tinham um plano para que demorasse este tempo?
Sim. Foi planejado. Eu que iniciei isso. Eu realmente precisava ficar longe [da banda]. Ela tinha chegado a um ponto em que estava disfuncional e não era divertido. Mesmo eu vendo que fizemos um bom álbum, fizemos bons shows, honramos nossa posição no mundo do rock, eu queria ficar longe e dar à banda uma chance de sobreviver. Ficar um tempo fora da banda foi muito bom. Fui para a escola, e estudei música por um ano na USC [University of Southern California], e isso abriu um monte de portas para mim na minha relação com a música. Meu tempo longe da banda realmente me fez apreciar e também perceber o quanto eu amo o Anthony [Kiedis]. O cara é meu irmão. Percebi o quanto significava pra mim continuar a tocar com ele no Red Hot Chili Peppers.
O guitarrista John Frusciante saiu… pela segunda vez. Por quê?
Não foi uma coisa qualquer. Ele simplesmente não queria fazer mais parte da banda. Ele realmente queria fazer o que ele quer fazer por conta própria, sem ter que lidar com a dinâmica de uma banda, a nossa dinâmica de banda. Sou grato pelo tempo que John esteve na banda. Foi um momento incrível. Foi uma união de muita experiência e criatividade e eu sou grato por isso.
O novo álbum já está pronto?
Sim, está terminado. Foi um processo tão grande fazê-lo e estou muito feliz com o fim do trabalho. É uma coisa bem dinâmica e nova. Descobrimos um outro lado de nós mesmos.
Como assim?
Bem, em primeiro lugar, a principal diferença é que John não está mais na banda agora e Josh Klinghoffer é o novo guitarrista. Apesar de Josh já ser um membro de nossa família, já ter feito gravações com a gente e ter se juntado a nós em nossa última turnê, ele é um músico muito diferente de John. Por isso, a sensação da música é muito diferente. John é um guitarrista virtuoso brilhante, que poderia fazer o que quiser na guitarra. É incrível, e eu sou muito grato por suas contribuições para a banda. Mas Josh é um músico completo, que também escreve e toca muitos instrumentos. Ele não faz o estilo Guitar Hero.
Isto é uma mudança total no estilo da banda comparando com as composições anteriores…
Certo. Antes, nós compúnhamos tocando juntos e Anthony acrescentava suas partes depois. Agora é uma abordagem muito diferente. Demorou algum tempo, eu era acostumado com a forma que John compunha, para entender a maneira como Josh iria interagir com o que eu toquei. Foi como, “Espere, eu pensei que você ia chegar a essa parte perfeita, que se encaixa com o que estou fazendo, que vai ser feito.” Com Josh, ele toca acima de você. Ele canta vocais de fundo lindamente nesse disco, também.
Como estudar música mudou sua relação com a banda?
Isso fez uma grande diferença como compositor. Estudei teoria de acordes e comecei a tocar piano. Então eu escrevi um monte de músicas para este álbum no piano. Antes a maioria das músicas que eu escrevia para a banda era no baixo. No piano eu estou escrevendo o ritmo de acordes, baixo, melodia e por isso é uma abordagem muito diferente para mim. Muitas dessas canções foram transformadas em rock depois. Então, começávamos escrevendo em um instrumento diferente, e passávamos imediatamente para rock. É uma enorme diferença no processo criativo e no produto final. Tem o som violento de rock e é funky verdadeiro. Há algumas belas e profundas canções, que podem se conectar aos corações das pessoas. Anthony está cantando sobre alguns assuntos importantes para os seres humanos.
Como o quê?
Sobre a vida, morte, traição e sua relação com o mundo. É muito mais comovente do que as nossas outras gravações. A vida e a morte é um tema importante. [O álbum] tem muita emoção. Todos da banda cresceram e continuam a se reinventar e a se tornarem músicos melhores, e nós fizemos isso juntos. Fomos forçados a isto.
Aconteceu alguma coisa para empurrar vocês nesse sentido?
Sim. O primeiro dia que nós estávamos tocando junto com Josh depois de dois anos fora, descobrimos que um amigo muito próximo de todos tinha morrido. Começamos a tocar e veio uma música que está no disco, chamada “Brendan’s Death Song”, sobre o nosso amigo Brendan Mullen. Improvisamos e aconteceu. Foi um momento comovente para nós. Foi uma coisa emocional.
E isso deu o tom para o álbum?
Mais ou menos. Nós somos o tipo de banda que possui ideias sobre o que queremos fazer e o que estamos procurando, mas o que realmente importa é o que acontece quando nos reunimos na sala. É o que vai crescer organicamente a partir de quem somos no momento.
Ouvi dizer que o álbum também é inspirado pela Música Africana.
Definitivamente. Nós sempre gostamos de música africana. Ao longo de nossa carreira fomos influenciados por ela, mas nós nunca havíamos realmente captado a coisa certa. Josh e eu viajamos pela Etiópia com um grupo chamado África Express, que Damon Albarn [Blur, Gorillaz] organizou. Nós vimos música todas as noites e tocamos com os músicos. A Etiópia é um país tão grande, um lindo lugar. Portanto, há um pouco de influencias africanas sobre as novas músicas. Uma delas é chamada “Take Me Home”, que tem um sentimento real africano, e há outra chamada “Ethiopia”. Estou muito grato a Damon por me levar junto. Ele realmente aumentou meu conhecimento sobre a humanidade.
Eu acho que a imagem da Etiópia é diferente de como muita gente imagina que é…
Tudo que eu sabia sobre a Etiópia foi a partir de alguns álbuns que eu gosto, assim como o que eu li sobre a fome. Mas você chega lá e é outro mundo. É repleto de arte, música, poesia, intelectuais e escritores – todos os tipos de pessoas. Eu fui a uma cidade chamada Harar que tem uma mesquita e uma igreja cristã, uma ao lado da outra e todo mundo se dá bem. Eles são devotos com sua fé, mas são muito tolerantes. Eu estava andando pela rua com um cara etíope, e ele falou, ‘Oh merda, cara, eu preciso cagar!”, então ele apenas caminhou até uma porta aleatória naquele bairro, e os moradores eram como: “Pode entrar e usar o meu banheiro”. As pessoas não fazem isso em L.A., seria assim se fosse como lá: “Desculpe-me, Arnold Schwarzenegger, posso cagar na sua casa?”.
Falando de coisas estranhas, você recentemente participou de uma maratona. Isso parece doloroso.
[Risos] Eu fiz isso para arrecadar dinheiro para a minha escola de música sem fins lucrativos, o Silverlake Conservatory of Music. É bem caro para mantê-la, então eu estou sempre tentando levantar grana. E eu li um livro chamado “Born to Run” e isso me deixou animado para correr, eu nunca tinha sido um corredor antes. Treinei e corri a maratona – e foi incrível. O treinamento foi divertido e correr uma maratona foi uma bela experiência revigorante. Foi difícil, mas gosto de coisas difíceis. Quer dizer, eu sou quase um maricas, eu nunca estive em uma briga ou qualquer coisa desse tipo. Mas eu gosto de forçar meu corpo. Eu já fiz esforço demais algumas vezes e acabei me machucando. Mas depois de correr por um tempo, seu corpo começa a ficar mais relaxado. Eu senti como se tivesse batido em partes do meu corpo que eu não tinha antes. Eu deixei as coisas no universo se fluir através de mim e isso me relaxou de uma forma muito legal. Choveu bem forte durante a corrida, estava congelando. Mas foi demais. Se eu não estivesse me preparando para a turnê agora, eu estaria treinamento para outra.
Você ouvia música enquanto estava treinando?
Nunca. Eu não gosto. Meus sentidos já estavam tão sobrecarregados, tão cheios. O som das batidas do meu coração, meus passos, correndo para cima neste desfiladeiro aqui em Malibu, os pássaros, os animais, os locais, já estava de bom tamanho. É uma coisa linda.
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Fonte: William Goodman – Spin Magazine Tradução: Raphael de Andrade Revisão: Amanda Olivieri