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Flea: “Anthony é a minha alma gêmea”

Flea fala sobre sua queda enquanto praticava snowboarding, sobre a nova direção dos Chili Peppers e nos atualiza sobre o Atoms for Peace.

Flea não sabe dizer com precisão o exato momento em que sentiu que o Red Hot Chili Peppers precisava seguir uma nova direção no novo álbum, The Getaway, mas ele lembra do sentimento. “Eu sentia que iríamos começar a fazer a mesma coisa que sempre fizemos”, o baixista conta à Rolling Stone. “Eu meio que senti isso no último álbum (I’m With You, 2011). Eu sabia o que íamos fazer ou como íamos fazer, antes de fazermos”.

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Ele decidiu que era hora de uma grande mudança: Rick Rubin, que produziu todos os álbuns do RHCP desde Blood Sugar Sex Magik de 1991, não produziria esse. Para seu lugar, eles trouxeram Brian “Danger Mouse” Burton, que mudou radicalmente os métodos da banda. Nós conversamos com Flea sobre o avanço criativo da banda, seu acidente devastador que adiou o processo de gravação, a próxima turnê e o que o futuro reserva para o Atoms for Peace.

Primeiramente, conte-me como você quebrou o braço praticando snowboarding?
Oh, cara, foi uma loucura. Eu estava em um resort chique em Montana. Eu estava praticando snowboarding há 3 dias. Eu estava tendo o melhor momento da minha vida e a parte engraçada da história é: eu estava esquiando com o Anthony (Kiedis) e fomos nos encontrar com o Lars Ulrich. Ele tem uma casa lá e estávamos esquiando com os filhos dele. Estávamos rindo, conversando, gritando. Nos divertindo muito. O Metallica e o Red Hot Chili Peppers tem o mesmo empresário. Uma hora paramos para tomar uma xícara de chá. Eu disse pro Lars: “Nós deveríamos tirar uma foto de um de nós deitado na neve todo deformado e tal, que nem Pollyana quando ela cai da casa. Tirar uma foto e brincar com Q Prime (nosso empresário) que um de nós quebrou a perna”.

Estávamos rindo sobre isso e literalmente uns 40 segundos depois, estávamos descendo a montanha à uns 80 km por hora. E eu caí muito feio. Eu não pude ver e não conseguia deslizar direito na montanha e BAM. Eu esmaguei meu braço. Eu quebrei em cinco lugares diferentes e tive um problema sério nos nervos. Eu estraguei completamente o meu braço. Foi uma cirurgia bem complicada para colocar tudo de volta no lugar e seis meses sem poder tocar baixo.

O que aconteceu depois que você caiu?
Eles jogaram um vidro de Vicodin na minha garganta e eu estava coberto de morfina na ambulância. Eu fui para o hospital de Montana. Depois voltei para L.A. para fazer a cirurgia. Foi difícil. Foi uma experiência muito difícil, dolorosa e triste.

Como foi o momento do impacto? Foi muito doloroso?
Quando o osso quebrou, eu senti muita dor. Meu braço começou a inchar na hora, e eu pensei que apenas tinha torcido. Eu não queria aceitar que tinha quebrado. Eles tentaram me colocar naqueles pequenos trenós para que eu pudesse ser carregado pela patrulha de esqui. Eu me recusei. Eu desci de esqui pela montanha. Eu pensava que só tinha sido uma torção, mas quando eu desci a montanha, eu disse: “Ok, acho que realmente quebrou”. Foi aí que me colocaram na ambulância. Eu pensei que na pior das hipóteses, eu teria quebrado e ficaria com gesso por um mês ou dois. Mas aí a médica olhou meus exames de raio X e disse: “Tem vários pedaços de ossos quebrados. Você quebrou em 5 lugares diferentes. E também há lesão nos nervos. Isso vai precisar de cirurgia”.

Há quanto tempo isso aconteceu?
Isso aconteceu em fevereiro do ano passado. Estávamos prestes a gravar o nosso álbum. Eu fiquei muito mal com isso e me dei conta de que decepcionei as pessoas, porque nós não conseguíamos gravar o álbum, e já tínhamos escrito algumas músicas. Eu fiquei muito, muito triste. Eu tive um longo processo de reabilitação. Tive um excelente cirurgião, Doutor John Itamura. Eu me recuperei e agora estou de volta.

A animação abaixo mostra como foi esse acidente do Flea:

Tenho certeza que você se preocupou que esse acidente poderia impactar para sempre o seu desempenho no baixo.
Sim, cara. Não foi tão assustador quando eu não estava tocando. Teve uns 4 ou 5 meses que eu não toquei absolutamente nada. Eu simplesmente ficava sentado no sofá o dia inteiro. O que foi assustador, foi quando eu voltei a tocar. Eu fui tocar uma nota simples e senti muita dor no braço. Doeu muito. No primeiro mês, eu estava apenas tentando tocar as coisas mais simples e minha mão não obedecia. Eu pensei: “Merda! ”. O que foi mais assustador, foi pensar que eu nunca mais seria capaz de tocar novamente, capaz de fazer o que sempre fiz, de não ser livre, não ser capaz de fazer as minhas coisas e continuar a ser um baixista. Só depois de 3 meses tocando, que eu fui capaz de ir e gravar o nosso álbum. Mas eu não estava 100% recuperado. Ainda tinha algumas coisas que minha mão não conseguia fazer, mas agora já está normal. Está totalmente bem. Estou feliz e agradecido.

Danger Mouse já estava trabalhando no álbum antes do acidente ou ele surgiu depois?
Ele já estava antes, mas acho que todos nos sentimos de maneira diferente sobre isso. Tinha muita confusão sobre o que seria o certo a se fazer. Nós não tínhamos certeza. Nós queríamos usar um processo diferente do que estávamos acostumados. Mesmo querendo sair da zona de conforto, me sentir vulnerável e fazer algo novo, eu não sabia qual era a direção certa para sair disso.

Brian queria que criássemos no estúdio. O jeito que sempre fizemos era: ir para os ensaios no estúdio, escrever as letras, juntar as músicas e aí o Rick chegava na última etapa e nos ajudava a organizar e ajeitar as músicas. Ele dizia o que era bom e o que não era. Era uma relação saudável. E o estúdio era apenas um lugar para documentar todo o trabalho que fazíamos nos ensaios.

Brian dizia: “Ok, você escreveu todas essas músicas. Eu gostei de algumas, e de outras não. Mas eu realmente queria que vocês criassem e escrevessem no estúdio comigo”. Ele tem uma base hip-hop e é assim que ele trabalha com as músicas. Você coloca a bateria e adiciona o baixo, piano, guitarra, o que for. Eu estava hesitante com isso. Mas não era porque eu não gostava da ideia de fazer esse processo. Eu só não queria perder nossa força como banda, a identidade bruta. Nós tocamos juntos e improvisamos. Tínhamos espontaneidade e entusiasmo, aquela interação humana que acontece quando você faz isso. Eu estava preocupado que se fizéssemos muito do que ele queria fazer, perderíamos o que é ótimo em nós. Também estava preocupado em mover muito para o outro lado, e ele não conseguir fazer o que faz de bom. Eu pensava: “Porra, poderíamos acabar ficando preso nesse meio termo. Bem, veja só, vamos nessa e se não der certo na primeira semana, nós vamos embora”.

Eu iria fazer o que ele queria, ia abraçar isso e ver o que acontecia. A grande esperança na minha mente, era que íamos ser capazes de sermos nós mesmos, poderosos o quanto pudéssemos ser, e ele seria ele mesmo em sua forma mais autoritária. Poderia ser algo novo para ambas as partes. No primeiro dia, estava evidente para mim que era o que ia acontecer. Eu me senti muito bem com isso, porque começamos a escrever de um jeito diferente. Foi muito divertido e eu comecei a achar que havia consideração quando gravamos e escrevemos desse jeito, coisa que não tínhamos da outra maneira.

Alguma música pré-acidente entrou no álbum?
Escrevemos e gravamos bem mais do que precisamos. Das 13 músicas do álbum, eu acho que 8 são de antes do acidente. Cinco delas foram escritas com Brian no estúdio.

O último álbum foi o primeiro com Josh Klinghoffer na guitarra. Eu imagino que você sinta que a banda está mais entrosada como um quarteto desde então.
Totalmente. John (Frusciante) era uma grande força criativa em nossa banda como músico, compositor e um cara com seu próprio senso estético de si mesmo. Quando o Josh entrou foi uma grande mudança. Nós fizemos o último álbum com o Josh, mas nunca tínhamos feito um show com ele. Ele entrou na banda e no dia seguinte nós tentamos compor um álbum. Nós gravamos mesmo sem nunca ter feito um show, sem conhecer ele direito. Quer dizer, eu conhecia ele perifericamente. Ele era amigo do John, éramos conhecidos e conversávamos, mas eu não conhecia ele bem, especialmente tão intimamente quanto você conhece alguém quando estão juntos em uma banda. Ainda não tínhamos estabelecidos uma relação um com o outro.

Depois de 5 anos na estrada, milhões de argumentos e de dizer ‘eu te amo’ um para o outro, tivemos tempo para estabelecer essa relação, então fazer esse álbum foi muito mais fluído, fácil e natural. Nós começamos a construir uma comunicação artisticamente e pessoalmente.

Estou sentindo que muitas dessas músicas são sobre desilusões amorosas e perdas. Estou certo?
Humm…sim. Acho que você tem que falar com o Anthony sobre isso, porque ele que escreve as músicas, mas sim, eu acho que há muito disso para ele. E, sabe, todos temos desafios emocionais na vida. Humm…sim.

Os fãs ficaram extasiados em ouvir “Aeroplane” em um show recentemente. Faz quase 20 anos. Você acha que essa turnê irá ter mais músicas raras como essa?
Eu espero que sim. É divertido tocar essas músicas que não tocamos há muito tempo. Nós estávamos almoçando e eu estava pensando sobre a banda. Eu tinha essa imagem na minha cabeça, de uma grande esfera multicolorida, e nós íamos construindo-a como um planeta. Toda vez que crescemos, nós mantemos o que temos, mas continuávamos adicionando camadas. E eu estava pensando como é importante ir adicionando camadas nessa esfera, para que continuasse crescendo como uma bola de neve, criando energia, e que sempre teríamos que lembrar do centro dela também. Foi aí que começamos, e sempre tocamos as coisas antigas para manter isso vivo por todo o caminho e ter mais poder. Isso foi uma coisa hippie de se dizer, mas é o que penso sobre isso.

Eu acho que uma das razões pelas quais vocês duraram muito mais do que a maioria das bandas, é que você e Anthony são muito próximos. Vocês até passam o tempo livre juntos. Muitas bandas têm membros que desprezam uns aos outros e isso corrói tudo.
Nós passamos por fases. Eu definitivamente amo ele. Ele é a minha alma gêmea. O que posso dizer? Acho que nossa relação é algum tipo estranho de estudo psicológico, algo como um imã norte e sul. Ele repele um ao outro, mas eles têm que ficar juntos para a Terra viver. Nossa relação é como uma viagem. Mesmo antes de estarmos juntos em uma banda, era essa coisa poderosa. Quando estávamos juntos, nós sempre batíamos em algo, criávamos caos e aterrorizávamos as ruas.

Hoje mais cedo, eu estava pensando sobre as vezes em que ficamos emburrados e bravos um com o outro.  E machucamos os sentimentos um do outro. E penso que quando éramos jovens e realmente precisávamos um do outro. Os dois eram crianças das ruas. Nós dependíamos um do outro. Quando o Blood Sugar foi lançado e todos ganharam um milhão de dólares, uma casa legal, um carro, lavadora, secadora e tapetes extravagantes. E do nada, nossas vidas se tornaram separadas. Nós não estávamos vivendo juntos em um apartamento. Tínhamos grupos diferentes de amigos. Havia muita raiva e julgamento na nossa amizade. Foi bem difícil.

Agora estamos em uma posição que é bem mais legal. Podemos ser felizes, relaxar e apoiar um ao outro, mesmo quando não concordamos. Isso levou muito tempo para descobrirmos como fazer.

Considerando tudo que vocês passaram juntos, é um milagre que a banda ainda continua tão forte.
Estamos prestes a fazer 33 anos. É insano. Quem imaginaria que aqueles dois idiotas continuariam a ser coesos em alguma coisa? Eu não consigo entender também. Obviamente, eu quero envelhecer elegantemente e ser uma pessoa bondosa e tal, , mas eu só quero tocar música e continuar nos agitando. A coisa mais animadora é que com essa banda eu ainda me sinto curioso. Eu ainda sinto uma energia futura. Eu mal posso esperar para ver o que vai acontecer. Eu não sei o que vai acontecer. Não é previsível ainda, e tudo bem, cara.

Por fim, você acha que o Atoms for Peace irá gravar e fazer turnê novamente?
Eu não sei. Eu amo aqueles caras. Eu estou em contato com eles e amo tocar com eles. Thom (Yorke) acabou de lançar um álbum com o Radiohead e com certeza vai entrar em turnê. Nós temos esse álbum dos Chili Peppers e estamos nos preparando para entrar em turnê, então ambos estarão longe de casa por um tempo.

Créditos: Rolling Stone
Tradução: Amanda Olivieri

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