Entrevista de Flea para a rádio DC 101
Ontem, dia 12 de Maio, Flea concedeu uma entrevista para a rádio DC 101.
E como aqui você não perde um detalhe da banda, traduzimos na íntegra esta entrevista para vocês! Confiram 😉
Roche: Flea, como está, senhor?
Flea: Estou ótimo, obrigado. E você, cara?
R: Muito bem, e obrigado por soltar Dark Necessities pra gente, foi meio que uma surpresa. Nós já tínhamos ouvido rumores, nada estava confirmado e então de repente foi “ei, nós vamos ter uma música nova em alguns dias”. E foi uma música realmente boa. Então, obrigado pela surpresa.
F: Ah, obrigado, cara. É tão emocionante para nós lançarmos uma nova música e nos sentimos tão animados com isso, é como um bebê recém-nascido. E nós só queremos cuidar dele, amá-lo, soltá-lo no mundo e deixá-lo crescer e fazer a parada dele. Sabe, pra nós é uma grande injeção de energia lançar coisas novas.
R: Vocês acreditam nos rumores ou só vão pro estúdio e fazem o que vocês fazem e quando está feito está feito e não se preocupam com o que vai acontecer, tipo vazamentos e coisas assim?
F: Bem, você nunca quer que algo seu vaze. É legal poder lançar quando você quer, mas você sabe, o que tiver que acontecer vai acontecer, mas… Eu não sei a que rumores você se refere, mas o processo criativo pra nós sempre foi algo muito insular, nós nos reunimos, entramos no estúdio e começamos a escrever e tocar, e vamos atrás, e achamos as coisas que nos deixam felizes. Energeticamente, eu acho, quando se está escrevendo música, se você em algum momento ficar pensando sobre o que vão pensar da sua música, você está perdido. Se você está sentado lá e pensando “hmm, eu adoro como esse acorde soa, mas ei, deixa eu checar aqui e ver o que 10 milhões de pessoas pensam antes que eu o escreva”, entende o que eu digo?
R: Bom, eu acho que não foi exatamente o que eu quis dizer, minha pergunta foi, não exatamente sobre rumores, mas a gente sempre ouve que “ei, vai sair uma música nova deles” ou “tem um álbum novo pra sair” com meses de antecedência. Enquanto que vocês puderam meio que gravar desapercebidos, ou seja, passando [para o público] que vocês talvez estivessem no estúdio ou não, vocês fizeram um bom trabalho em gravar, eu acho, sem pressão externa.
F: É, quer dizer, a gente sempre faz isso. A única pressão que nós temos, eu não diria que é uma pressão, é apenas um profundo amor e cuidado com a música que nós fazemos e querer aperfeiçoar nosso trabalho e trabalhar duro, caprichosamente entrar em ação e deixar o cosmos fluir e ser capaz de desenvolver a técnica e a capacidade de canalizá-lo.
R: O que tem que ser conciliado, nessa etapa da sua vida, e nessa etapa da vida da banda? Entrar lá, e construir um álbum dos Red Hot Chili Peppers? O que tem que ser conciliado, de um ponto de vista pessoal?
F: Eu não sei se “conciliar” é a palavra certa, mas nós temos que ser capazes de nos sacrificar. Olha, cara, nós temos sido uma banda de rock por um longo tempo, nós temo sido sortudos de conseguir ganhar a vida bem fazendo isso e realmente, se nós quiséssemos, nós poderíamos estar sentados numa praia em um lugar qualquer comendo mamões e olhando pro horizonte, mas a questão é, a fome, a fome que corrói, e o empenho, e o desejo de fazer música é realmente profundo, e o amor e o cuidado por isso engloba a tudo. Então, nós simplesmente amamos fazer música, e nós somos curiosos, e nos importamos, e queremos ser melhores, nós queremos doar. Essas vidas são curtas, sabe? Você vê, o Prince se foi, o Bowie se foi… Essa [vida] é uma grande oportunidade de fazer música. No último show do Louis Armstrong tiveram que carregá-lo até em cima do palco e ele subiu lá e tocou, porque isso era a vida dele, e era a expressão dele. E pra mim, e sei que pra nós, é como se tivesse esse negócio firmemente preso, enrolado dentro de mim, e eu tenho que liberá-lo e deixá-lo relaxar. E eu quero crescer, e eu me importo, e quero mudar e eu me torno mais humilde sob o maravilhoso poder da música.
R: Quais foram algumas das suas conclusões, como banda, do “I’m With You” e do projeto que se tornou “I’mWith You”, que vocês aplicaram no que vai se tornar “The Getaway” no dia 17 de Junho?
F: Quando nós fizemos “Im With You” nós tínhamos acabado de conseguir o Josh Klinghoffer como nosso guitarrista. E, uma recapitulação rápida, John Frusciante tinha saído da banda, e ele era uma parte realmente integral da banda, e nós contratamos Josh, e levou um tempo até nós estabelecermos uma linguagem com ele. Não uma linguagem verbal, mas um meio de comunicação telepática musical, de verdade, quando você só olha para alguém e começa a tocar e encontra esse lugar mágico. Quando nós começamos com “I’m With You” nós nunca tínhamos feito um show com ele, era totalmente novo, e nós começamos a escrever e gravamos um disco. E eu defendo aquele disco, e eu amo aquele disco. Mas pra esse nós realmente conseguimos… Tinhamos feito turnês, nós tínhamos tocado bastante juntos, e tínhamos um novo nível de comunicação, e conseguimos criar coisas, ir a um lugar mais profundo, nos comunicar mais fluidamente e deixar música mais profunda sair de nós como um resultado. E nós também paramos de trabalhar com Rick Rubin, o que foi sair de nossa zona de conforto, e começamos a trabalhar com Brian, que foi um novo processo de gravação, e foi tudo excitante, emocionante, e nós tentamos fazer essa música que simplesmente parece ótima pra mim. Nós fizemos esse disco e é… Eu apenas estou animado. Novas cores pra pintar, novas energias, é uma nova missão e eu quero agitar com ele com todas as fibras da minha alma.
R: Estou presumindo que o background disso tudo vai estar presente, e presumindo que “Dark Necessities” é uma boa indicação sobre o que “The Getaway” é. Quando ouvi “Dark Necessities” pela primeira vez, fiquei imediatamente impressionado pelo quão diferente soava, mas ainda assim era familiar. Soava como uma música ou vibe dos Red Hot Chili Peppers, mas ainda assim diferente. Isso faz algum sentido?
F: Sim, bom, eu espero que soe diferente, seria péssimo se nós fizéssemos algo que fosse igual a algo que já fizemos. Nós sempre tentamos crescer e mudar e crescer pra cada disco que fazemos. E esse não é diferente nesse sentido. Foi ótimo pra nós sair da zona de conforto e foi uma sensação meio assustadora e de vulnerabilidade trabalhar com um produtor com o qual nós não tínhamos trabalho em tanto tempo e um [produtor] que tinha ideias bem específicas sobre o processo de gravação, que eram bem diferentes de tudo que nós já tínhamos feito e eu estava com medo. Na realidade, entrando no estúdio, eu estava pensando “se isso não der certo, nós damos o fora daqui”, entende o que eu digo? Mas nós fomos lá e nos demos conta que era realmente excitante e acredito que pro Brian também (também conhecido como Danger Mouse). Foi excitante para nós dois fazer algo totalmente novo e nós fomos capazes de fazer algo com que nós ficamos explodindo de animação. “Dark Necessities” é uma música da qual nós temos muito orgulho, eu sinto que tem um ótimo groove, tem profundidade, tem melodia, tem ritmo, tem todas as coisas em uma fluidez realmente dinâmica, mas é apenas uma cor das tantas que tem no arco-íris que é esse disco. Nós não quisemos que nenhuma música soasse como outra dentro do disco, elas não se repetem, elas realmente ocupam seus próprios espaços, nós estamos empolgados.
R: Sabe, você mencionou o Prince e tem o rumor agora sobre o arquivo de músicas do Prince. Eu sei que vocês descartaram uma quantidade de músicas e talvez discos inteiros para ir trabalhar com Danger Mouse do zero. Existe um “arquivo dos Red Hot Chili Peppers” que nós podemos não conhecer ou ouvir até bem depois que vocês se forem?
F: Cara, eu estremeço só de pensar sobre o que as gravadores podem pegar e lançar quando nós deixarmos essas carcaças mas nós temos bastante coisa, sim. De todos os discos. Nós sempre escrevemos demais e enlouquecemos, escrevemos de 40 a 50 músicas para um disco, e não são necessariamente as melhores músicas que nós escolhemos [para entrar no disco], mas as músicas que funcionam bem juntas para formar uma obra. Tem muita coisa, mas nós geralmente não voltamos atrás e usamos coisas que deixamos de usar para discos anteriores porque sempre queremos começar do zero. Vemos cada disco como uma cápsula do tempo, como onde nós estamos naquele tempo, e o que vai acontecer realmente no momento, então é, quero dizer, quem sabe o que vai acontecer. Tenho certeza que se nós realmente quiséssemos nos juntar e procurar as melhores coisas, terminá-las e fazer direito, nós poderíamos, mas estamos sempre animados com o presente e o futuro, ao invés de ficar no passado.
R: Bom, estou ansioso pra ver os Chili Peppers em holograma no palco do Coachella de 2074. [risos]
F: [rindo] Eu estou ansioso pra chegar aos 174 anos, 150 anos e tocando rock com meu pinto pra fora nessa época.
R: Então, antes de eu deixar você ir, eu sei que vocês anunciaram algumas datas de festivais e coisas na Europa, mas eu presumo que vocês vão fazer a turnê mundial completa. Você pode prometer que tem uma data em DC [Washington] no futuro para “The Getaway”?
F: Eu prometo como todo o meu coração sincero que estaremos em DC, mostrando nossas almas para as boas pessoas de DC e animados de estar lá. Eu amo aquele lugar, cara.
R: Flea, se cuide cara, muito obrigado pelo seu tempo!
F: Obrigado por ter me convidado.
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Transcrição e Tradução – e agradecimentos! – Ana Beatriz Barata