Entrevista com Chad Smith para a Rolling Stone
O Chili Peppers é um longo casamento. Chickenfoot é como se fosse uma amante”
Chad Smith deu uma entrevista exclusiva para a Rolling Stone. Realizada na casa do próprio baterista, a conversa é interrompida diversas vezes: seja pela campainha que toca, seja pelo cara que veio arrumar sua moto.
Confiram abaixo a tradução desta entrevista extremamente hilária:
O baterista do Red Hot Chili Peppers raramente fica em casa. Quando ele não está em turnê com os Chilis, ele está trabalhando ou com seu super grupo Chickenfoot (com Sammy Hagar, Michael Anthony e Joe Satriani ou com outros projetos paralelos. Isto significa que, quando Chad está em casa, ele é absolutamente bombardeado por pessoas que disputam sua atenção. Durante a entrevista para a Rolling Stone, o baterista teve que pedir licença repetidamente para lidar com um homem confuso que estava a caminho de sua casa para entregar uma moto e alguém que veio para pegar as almofadas de um sofá-cama. Foi histérico, mas ele conseguiu de alguma forma fazer a entrevista e lidar com as outras coisas ao mesmo tempo.
Como foi a turnê na Ásia que vocês acabaram de fazer?
Estava quente no Haiti. Eu acho que não é o calor, é a umidade. Foi muito divertido. Eu acabei de voltar há algumas horas.
Este é somente o começo daquilo que eu acredito que será uma longa turnê, certo?
Sim. É só o começo de uma louca turnê mundial. Nós estamos aqui há 10 dias, mas depois iremos para a Europa e em seguida para a América do Sul, em Setembro. Daí, retornaremos para a Europa até o final do ano.
Esta nem sequer é a primeira vez de Josh Klinghoffer com vocês. Ele tocou no final da última turnê que vocês fizeram, certo?
Sim, ele já estava acostumado – mas agora ele não é somente o cara que auxilia. Obviamente, agora ele é o cara principal, mandando ver, camarada. Ele tocou perfeitamente e todos amaram, todos estavam de bom humor. Há uma verdadeira energia positiva em volta da banda agora. É muito divertido.
[O telefone toca]
Ôpa, só um momentinho. [Ele começa a falar com um cara incrivelmente confuso que precisava entregar sua moto.] Oi? Você encontrou a rua [editado]? Deve ser no próximo farol. Você está perto. Vire à esquerda na rua [editado] e entre na próxima direita. Já consegue ver a rua [editado]? Isso, isso, isso… ok, vire à esquerda. Vire a direita assim que ver a placa “PARE” e assim que ver a segunda placa “PARE”, vire à esquerda. Esta é a minha rua. Deu certo? Achou?
Enfim, Josh é um músico. Ele já rodou o mundo com muitos caras. Isto não é nada novo pra ele, mas ser o guitarrista principal na nossa banda é algo novo, então é divertido. Eu acho que ele está muito ansioso – assim como nós – de tocar bastante as músicas novas. Nós não queremos tocar um monte de músicas novas para um público em um festival. A maioria ali não sabe as músicas e isto não seria justo. De agora em diante, tocaremos mais músicas novas.
É um bom tempo ocupado para você lidando com o novo álbum dos Chilis e com o novo álbum do Chickenfoot que sairá em breve.
Sim, mas não estou fazendo nada no álbum do Chickenfoot. Nós gravamos e foi demais, foi muito divertido. Mas eles já sabiam logo no começo que era algo do tipo “Ei, é uma coisa bacana de se fazer enquanto eu tenho este tempo a mais”.Nós queríamos gravar outro álbum mas daí eles falaram tipo: “Oh, você está naquela outra banda, a outra banda… eu esqueci.” E eu tipo: “Sim, eu estou trabalhando nisso agora”. Eu acho que eles estavam falando sobre chamarem o Kenny Aronoff. Eu não sei quando eles iniciarão a turnê, mas o novo álbum sairá no dia 27 de Setembro. Então, está tudo certo.
Eu tenho certeza que é, ao mesmo tempo, bom e ruim ver alguém ocupando seu lugar.
Sabe, é legal. Kenny é um cara muito bacana e é um grande amigo meu. Tenho certeza que será muito divertido e que eles curtirão muito. Foi um projeto muito legal que eu fiz com aqueles caras. Eu simplesmente amo tocar, tive a chance de tocar com outros músicos e fui fundo nisto. [O telefone toca]. Ah não, é a porra deste cara de novo. Espere aí.
Alô? Sim. Tá vendo o sinal “PARE”? Ok, vire à direita e o segundo sinal de “PARE” estará na rua [editado], daí você vira à esquerda.
Ah, desculpe por isso. Ele ficava tipo: “Tô vendo! Tô vendo” Bem ali” Minha moto provavelmente chegará aqui em seis pedaços.
Qual é a diferença de gravar um álbum com o Chickenfoot e outro com os Chilis?
São duas coisas completamente diferentes. Com os Chili Peppers, nós escrevemos músicas durante um ano e gravamos durante cinco meses. Com o Chickenfoot, Joe [Satriani] enviou demos para as pessoas e Mike [Anthony] e eu viemos de Los Angeles e terminamos tudo em algumas semanas. Foi rápido e bem diferente, há uma energia espontânea que rola no Chickenfoot. [Telefone toca] Um momento.
Alô? Qual portão? O de madeira? Tá. Aperte o botão que eu vou liberar a sua entrada. Não, dirija pelo portão. Pressione o botão do portão. Tá vendo aquele botãozinho onde está escrito “pressione” no interfone? Tá vendo?
Pelo menos o cara encontrou sua casa.
É, ele conseguiu achar. Vamos ver se ele consegue descobrir como funciona o botão e o portão. Pois é, ainda não. Mas enfim, Chickenfoot e Chilis são coisas diferentes. O Chili Peppers é como um longo casamento – [O barulho do botão é ouvido.] Ei, este porra de gênio descobriu como funciona! – e o Chickenfoot é tipo como se fosse uma das minhas amantes. Quando eu retorno aos Peppers, assumo o papel.
Você também está gravando com os Bombastic Meatbats.
Sim, eu toquei isto com alguns amigos meus que estavam habituados a tocar com Glenn Hughes do Deep Purple. Ele é um grande amigo meu e nós éramos como se fôssemos da banda. Acabamos fazendo umas jams e surgimos com essas músicas que realmente gostamos, então fizemos um projeto paralelo a partir disto. Deu, tipo, dois álbuns de Glenn Hughens, dois álbuns do Chickenfoot e dois álbuns do Bombastic Meatbats desde que saiu o último álbum dos Chili Peppers. Eu toquei no álbum do Dixie Chicks, no do Kid Rock e no dos Avett Brothers, que sairá em breve.
Por que você não tirou uma longa pausa? Muitos músicos de grandes bandas simplesmente desaparecem entre a gravação de um álbum e outro ou entre ciclos de turnês.
[O cara da moto finalmente chega]. Obrigada. Obrigada. Que bom, você encontrou. Sem problemas.
Sabe, eu amo tocar. Rick Rubin me liga e fica tipo: “Ei, você se daria muito bem nisto, vamos fazer”. É realmente muito divertido fazer coisas diferentes. Eu não vou montar uma banda que seja parecida com os Chili Peppers. Eu farei algo diferente.Isto me deixa afiado.
Você acha que os Chili Peppers finalmente encontraram um guitarrista que permanecerá na banda até o final?
Sim, eu espero que sim. São muitas luzes apontadas para esta questão da troca de guitarristas na banda… nós já tivemos muitos. Somos iguais ao Spinal Tap.
[Para o cara da moto]. Você quer que eu faça isso? Ok, aguarde aí. Ok, funcionou o freio. Beleza. Ok, os dois freios estão funcionando.
As coisas estão indo muito bem na banda agora, nós acabamos de molhar o pé nestes shows. É realmente uma nova banda. Eu, Flea e Anthony certamente estamos tocando juntos há um bom tempo – mas mesmo assim é excitante e reenergiza todos nós.
Não é muito comum ver pessoas que tocando em grandes festivais e estádios, daí dão meia volta e tocam em casas pequenas.
Eu acabei de tocar em um club em Los Angeles chamado Baked Potato. Comporta 90 pessoas. É como tocar em porão como em Indiana ou em um local onde seus amigos apareçam. É muito divertido e a energia é bem diferente do que tocar para 50.000 pessoas um estádio de baseball em Tóquio. Eu toco em qualquer lugar, cara. Eu simplesmente quero tocar para pessoas que amam músicas e preciso de alguém que… [A campainha toca]. Jesus Cristo! Isto aqui tá pior que o Terminal Grand Central!
[Para o cara na porta]. Pois não? O que é? Minha esposa não está aqui. O que você precisa pegar? Ah, as almofadas. Elas estão logo abaixo da piscina, você as verá por lá. Vá por este caminho, suba as escadas e você verá.
Desculpe, isto aqui é a porra de um inferno.
Você quer meu RG? Ok, espere aí. Ok. O que há? Eu não tenho meu cartão pessoal comigo mas sou o tipo de cara que carrega cartões. Sou o Chad. Mostrarei a você. Calma… [Para a Rolling Stone]. Desculpe, cara. Tenho certeza que estou te distraindo.
Não tem problema.
É que tudo ao mesmo tempo.
Não tem problema. Quando víamos você em capas de revistas anos atrás, todos achavam que você era o Will Ferrell. Você passa por isso direto?
Nossa, muito. Eu não me acho muito parecido com ele, mas as pessoas realmente acham que eu sou ele – especialmente em aeroportos e arredores.
E você diz a eles que você não é o Will Ferrel, mas que, ainda assim, é uma celebridade?
É… não. As pessoas que chegam em mim ou são bateristas ou fãs da banda. Eu não passo muito por situações assim mas eu estarei em algum lugar e alguém pedirá para tirar uma foto ou algo do tipo. Daí, na mesma hora, uma outra pessoa irá olhar para mim e dizer: “Will Ferrell?” Eu teria que dizer “não” e eles ficariam tipo: “Para com isso, eu acabei de ver você tirando foto com aquele cara! Porque você age assim?” E eu ficaria tipo: “Amigo, tô te falando, não sou o Will Ferrel”. Então, muitas vezes é mais fácil concordar com eles, tirar a foto e eles vão embora. É estranho parecer tanto com alguém a ponto de as pessoas nem perguntarem se você é aquele cara. Elas simplesmente aparecem e já vão dizendo: “Eu amei você naquele filme!”
Você já o encontrou?
Na verdade, eu o encontrei uma vez. Eu estava na festa de estréia do filme The Ladies Man, anos atrás. Eu estava na fila da comida após o filme, pegando espetos de frango e coquetel de camarão, algo do tipo. Eu estava enchendo meu prato e ele o dele. Havia um cara entre nós. Olhei para o Will e fiquei pensando: “As pessoas realmente me acham parecido com ele? Eu não tenho nada a ver com aquilo ali”. Daí, o cara que estava entre nós saiu e não havia mais ninguém entre nós. Will deu uma volta, me olhou da cabeça aos pés e disse: “Você é muito lindo” e saiu andando. Totalmente cara-de-pau. Eu fiquei tipo: “Você é engraçado, você é engraçado.”
Entrevista original (em inglês): Rolling Stone
Tradução: Ana Paula Mancini