Chad Smith fala sobre Frusciante, Klinghoffer e o The Getaway
Em entrevista recente a Rolling Stone, Chad Smith fala sobre John Frusciante, Will Farrell e o processo de gravação do novo álbum, “The Getaway”.
Quando Chad Smith entrou para o Red Hot Chili Peppers em 1988, ele tinha poucas razões para achar que aquilo duraria muito. O grupo tinha passado por três bateristas nos últimos cinco anos, e o guitarrista Hillel Slovak tinha morrido meses antes. “Lembro-me bem que logo que eu entrei, fizemos uma sessão de fotos para Spin ou algo assim”, Smith diz à Rolling Stone. “Eu estava de pé em uma rocha em algum lugar em Malibu com uma meia no meu pau e perguntava a mim mesmo quando tempo aquilo ia durar. Não tinha certeza do que era aquilo, mas era algo a fazer naquele momento”.
28 anos depois, o grupo está ainda mais forte. Na sexta-feira, eles lançaram o novo álbum, “The Getaway”. Nós conversamos com Smith sobre o novo LP, sobre a turnê mundial do RHCP, como andam as coisas no Chickenfoot e sobre sua nova parceria de comédia com o seu sósia, Will Ferrell.
RS: Eu tenho curtido muito este álbum!
Chad: Você é um cara de bom gosto!
Como o processo começou?
Bem, nós escrevemos algumas músicas por provavelmente nove meses, o que normalmente fazemos, e nós estávamos nos preparando para gravar quando o meu amigo Flea quebrou o braço no snowboard. Então, tudo levou a uma pausa. Ele realmente caprichou. Levou seis meses para ficar curado. Durante esse tempo, nós meio que reavaliamos a nossa abordagem. Brian “Danger Mouse” Burton disse-nos: “Eu amo suas músicas. Eu posso ajudar a torná-los melhor, mas se vocês realmente quiserem usar meus dons, deverão entrar em meu estúdio e escrever um monte de músicas a partir do zero.”
No começo nós estávamos tipo, “Peraí… eu não sei… fizemos isto por muito tempo e parecia funcionar”. Mas assim que abraçamos a ideia e nos abrimos para esta nova forma de crescer e mudar ficaram realmente dispostos a encarar este desafio. E graças a Deus que topamos porque acabamos compondo outro punhado de músicas. Provavelmente 6 das 13 músicas do álbum são as que criamos com Brian no estúdio e aquelas que já tínhamos, ele ajudou a melhorar.
De onde surgiu a idéia de trabalhar com Danger Mouse?
Nós o conhecemos e também as bandas com as quais ele trabalhou. Saímos em turnê com Gnarls Barkley. Nosso guitarrista Josh [Klinghoffer] tocava teclado com eles quando saímos juntos em turnê. Tínhamos amigos em comum e quando o nome dele surgiu, ficamos tipo: “Beleza, vamos falar com o Brian.” Foi bem simples.
Qual foi a diferença durante o processo entre ele e os outros produtores que vocês trabalharam no passado?
Ele vem da linha hip-hop, digamos assim, de um processo em que você começa com uma batida. Nós ouvíamos diferentes tipos de música e separávamos aquilo que ambos iam gostando, uma vibe ou qualquer coisa, e então eu entrava com a bateria. Recuávamos e avançávamos nas decisões até de fato decidirmos. Então, Flea entrava com o baixo sobre o que eu havia feito. Depois seria a vez de Josh nos teclados ou na guitarra, era assim que fazíamos.
É muito diferente de tudo que já fizemos antes. Nós começamos do nada, foi bem louco. Eventualmente nós ficávamos tipo, “Isso é ótimo. É diferente, mas ainda soa como nós.” Brian estava tão animado com tudo isso, que depois tudo fluiu. Ele ficava lá das 11 da manhã até às 11 da noite. Rick [Rubin] já não gosta de ficar tanto tempo no estúdio. Ele ficava no estúdio mais para o processo de tracking e vocais. Já Brian tem um bronzeado de estúdio, como eles dizem.
Vocês gravaram muito mais músicas além das que estão no álbum?
Sim, como sempre. Nós provavelmente gravamos mais de 20 músicas. Isso sempre acontece conosco. Brian estava lutando por um álbum curto. Ele foca em manter o tempo total em 45 ou 50 minutos, considerando-se que as pessoas tendem a dispersar quando passa disto. Nós ficamos tipo, “Está ótimo, mas essa música tem que estar lá”. Então, todos entraram em comum acordo em relação a nove músicas e, em seguida, as quatro últimas, onde todos puxavam o saco para a sua música favorita. Reduzimos a 13, que eu acho que funciona. Todo mundo está satisfeito com as seleções que fizeram.
Você vê um tema para as letras? A maioria parece ser sobre decepções amorosas.
Sim. Bem, eu não quero falar por Anthony [Kiedis], mas acho que você está certo. Há outras coisas, como “The Longest Wave.” Eu tenho certeza que há um significado mais profundo do que surfar. “Detroit” é uma ode de amor para a grande cidade de Detroit. Há algumas outras coisas, mas sim, eu diria que grande parte é sobre essas coisas de relacionamento, com certeza. Você maltrata o coração de alguém e… é, pois é.
No álbum anterior, vocês haviam acabado de contratar um guitarrista novo. A banda deve estar mais à vontade agora.
Josh está muito mais à vontade. Ele é uma ótima parte deste álbum, é um músico dedicado. Temos sorte de tê-lo. E eu não sou mais o cara novo da banda! Eu fui o Ron Wood do RHCP por 27 anos. Nós fizemos turnês e tocamos muitas músicas juntos nos últimos cinco ou seis anos, e que faz uma grande diferença, com certeza.
Vocês fizeram um monte de shows antes do álbum sair. O que foi aquilo?
Nós meio que tínhamos que dar um prazo a nós mesmos. Nosso manager estava tipo, “Ok, o verão está chegando. Nós vamos ter um álbum?” E nós dizíamos “Sim… Eu acho que sim!” E ele “Ok, temos que começar a reservar estes shows com seis meses de antecedência, pois as pessoas querem saber sobre festivais e tudo mais.” Então respondemos “Sim, devemos ter um álbum em Junho.” Nos demos este prazo. Então, acabamos apressando tudo naquela fase típica de última hora quando você tem um prazo. Mas estamos super animados em tocar essas músicas ao vivo para as pessoas.
Os fãs ficaram chocados ao ouvir “Aeroplane” no início deste ano.
Sim, nós estamos fazendo isso mesmo. Cogitamos até “My Friends”, do álbum bastardo que nunca tocamos. Ninguém tinha uma conexão real com aquele álbum. Josh é tipo, “Eu não me importo. Eu gosto, cara.” Variar é preciso. Nós vamos tocar músicas mais antigas, do primeiro álbum. Estamos tocando agora “Nobody’s Weird Like Me” do “Mother’s Milk”. Estamos analisando nossos álbuns mais antigos. Vai ser difícil decidir quais entre as novas que nós tocaremos. Nós não podemos escolher todas. Vamos decidir isso e continuar mudando.
Vocês tem vários shows agendados em festivais. Quando é que vai rolar uma turnê na América?
Estamos fazendo todos os festivais europeus agora e, em seguida, Coréia e Japão e talvez algumas datas canadenses. Depois, em Setembro, vamos começar nossa turnê solo na Europa até o final do ano. Nós estaremos na América do Norte em Janeiro do próximo ano.
Eu sempre converso com algumas bandas que desistiram de encarar um álbum como uma forma de arte. Mas vocês claramente ainda acreditam nisto, apesar de tudo.
Absolutamente. Podemos ser old school, mas meus artistas favoritos fazem álbuns. E eu acho que essas músicas são uma coleção de canções que merecem estar juntas. Nós escrevemos todas ao mesmo tempo. É uma pequena prévia de onde a banda está agora. Espero que as pessoas ouçam o álbum todo. É uma experiência muito gratificante.
Você acha que haverá uma nova turnê do Chickenfoot?
Nós acabamos de tocar há algumas semanas em Tahoe, mas todo mundo tem suas coisas. Sam [Hagar] tem seu projeto com Mike [Anthony] e Joe [Satriani] está em sua própria turnê. Nós realmente gostamos de tocar juntos, mas com a minha agenda atual, vai ficar mais difícil. Eu adoraria fazer alguma música nova com eles, mas nós teríamos que estar no mesmo local, ao mesmo tempo. Eu não sei. Está no ar. Eu adoro tocar com esses caras. É um grande prazer.
Eu falei com você há cinco anos e você mal conhecia Will Ferrell no momento. Desde então, vocês tornaram-se esta incrível nova dupla de comediantes.
[Risos] Eu não sei se faremos Step Brothers 2 juntos. Mas quem diria que as pessoas iriam gostar tanto de dois caras que são parecidos um com o outro e que rolaria um excêntrico drum off na televisão. Acabou virando esta grande coisa e nós ficamos tipo, “Vamos fazer algo de bom com isso”.
Fizemos este evento beneficente no Shrine recentemente e levantamos dinheiro para duas grandes causas. Ele trouxe seus amigos comediantes para a apresentação e eu trouxe a música e os bateristas. Foi muito divertido. Ele é incrível, embora tenha perdido o drum off novamente. Eu estava como os generais de Washington na bateria. Eu nunca vou ganhar, não adianta. Ele trouxe Mick Fleetwood e a USC Marching Band. Isso não é justo!
Não é justo.
É uma merda! Eu tinha Stewart Copeland e Tommy Lee, Taylor [Hawkins] do Foo Fighters. Eu tinha uma boa equipe. Mas foi divertido. Então, quem sabe? Podemos fazer isto de novo. É bom saber que dois caras que se parecem conseguem arrecadar milhões de dólares.
Você conversa com John Frusciante?
Não tenho falado com ele. De vez em quando, ele vai me manda uma mensagem de texto, ou um e-mail, ou algo assim. Eu sei que Flea o viu recentemente e eles se encontraram. Mas eu não tenho tido muito contato. Ele está fazendo as coisas dele. Eu amo John. Ele é um dos músicos mais incríveis com quem eu já toquei. Sou muito grato por ele ter passado pelo nosso grupo. Mas eu acho que ele é feliz fazendo suas próprias coisas, o que ele quer fazer, e isso é ótimo. Eu quero que ele seja feliz.
A banda era ótima antes dele, e tem sido ótima desde que ele saiu.
Desde que continuemos fazendo isto porque amamos, tocando de coração e de que todo mundo queira fazer isto pelas razões certas, vamos continuar tocando. O que mais eu vou fazer? Eu tenho 54 anos de idade. Eu sou um músico profissional. Eu não vou começar a trabalhar no McDonalds ou um escritório de advocacia ou roubar um banco. Isto é o que eu vou fazer. Somos todos tão afortunados por fazer o que amamos. Fazemos música, viajamos e as pessoas ainda querem nos ver. Hoje me disseram, “Acrescentamos uma terceira noite em Paris, duas em Budapeste e em Helsinque já está tudo esgotado.” Isto é incrível para mim. Soa como “Puta merda. Isso é fantástico.” Eu tenho o melhor emprego do mundo.
Tradução: Ana Paula Machado Mancini
Fonte: Rolling Stone