Chad Smith conversa com a Rolling Stone sobre os 25 anos do álbum “Mother’s Milk”
Os “funk-punkers” do Red Hot Chili Peppers enfrentaram tragédias e se reconstruíram com o álbum “Mother’s Milk”, de 1989. Chad Smith fala sobre o álbum, 25 anos depois.
Para o Red Hot Chili Peppers, o ano de 1988 foi o tipo de ano que poderia destruir bandas bem estabelecidas. Eles tinham lentamente construído um público cult com seus três primeiros álbuns – sendo que o último, “The Uplift Mofo Party Plan” de 1987, entrou na lista dos 200 mais vendidos da Billboard – mas a celebração foi cancelada quando um dos membros fundadores, o guitarrista Hillel Slovak, faleceu devido à uma overdose de heroína, em junho de 1988, aos 26 anos de idade.
Jack Irons, em seu momento de luto, não conseguiu continuar e saiu logo em seguida. O frontman Anthony Kiedis foi para reabilitação. A banda decidiu continuar com uma nova formação, incluindo o guitarrista Dewayne “Blackbyrd” McKnight e o baterista do Dead Kennedys, D.H. Peligro. Mas ambos seriam demitidos em alguns meses.
O Chili Peppers só começou sua “segunda vida” depois de conhecer o fã adolescente de Slovak, chamado John Frusciante, e o amante de hard-rock, chamado Chad Smith.
Chad havia mudado de Detroit para Los Angeles em agosto de 1988, e em dezembro ele já estava tocando bateria na banda. Isso se estabilizou como a formação mais duradoura dos Chili Peppers, responsáveis por 19 milhões de álbuns vendidos.
O dia 16 de agosto marca o aniversário de 25 anos do álbum “Mother’s Milk”, o álbum que colocou os Peppers no caminho do estrelato da MTV, nos principais festivais, e eventualmente, no Rock and Roll Hall of Fame.
Chad fala um pouco sobre esse momento que mudou sua vida, que re-inventou a banda e tornou o mundo um pouco mais louco.
Então, tudo isso aconteceu logo depois que você chegou na Califórnia.
Sim. Denise Zoom sabia que eles estavam procurando por um baterista, e um amigo meu, Newt Cole, que namorava Denise, disse: ‘Eu tenho um cara pra vocês. Eu sou amigo do Chad, cara. Ele come bateria no café da manhã’. Eu não sabia de nada, e foi assim que eu fui apresentado aos Chili Peppers. Então, quando eu fui para a audição, eu levei minha bateria para o lugar do ensaio, um buraco horrível e sujo em Silver Lake, eu olhei para o Flea e ele disse: ‘o que é isso? o seu café da manhã?’. E eu disse: ‘O quê?’, olhando para aquele cara baixinho, com um moicano engraçado. Todos estavam olhando para mim, se perguntando ‘quem é esse desengonçado, cabeludo de bandana do Centro-Oeste? Tirem esse cara daqui’. Naquela época, a cena do Sunset Strip estava forte: os Guns N’ Roses, Motley Crue. As coisas estavam acontecendo naquela época. E eles não eram assim, os Peppers eram anti esses tipos de banda. E eu também, mas me vestia daquele jeito porque eu sou de Detroit. E assim que eu comecei a tocar, cara, esses tipos de pensamentos foram embora.
Você tinha 26 anos naquela época?
Sim, eu tinha acabado de fazer 27 quando conheci eles. Anthony e Flea tinham 26 – nossos aniversários são em datas próximas – e John tinha 18 anos. Ele era muito novo, nunca tinha estado em um banda e agora estava tocando na sua banda favorita, ele era uma bola de energia. Quer dizer, naquela época, tudo que fazíamos era rápido e pesado, e era emocionante. Eu não sabia muitas coisas sobre a banda – ‘Oh, sim, os caras com meias em seus paus, e eles são muito loucos’.
Assim que entrei na banda, começamos logo a compor músicas – eu acho que eles tinham algumas músicas prontas antes disso. Claro, fizemos o cover de Stevie Wonder (Higher Ground), que foi meio que nossa entrada na MTV e coisas assim. Mas começamos logo a compor. Eu fiz um show no Roxy ou em algum outro lugar, na verdade, metade de um show com alguma outra banda, mas entramos de cabeça no processo de composição e era muito excitante e divertido. Em alguns meses, talvez, já estávamos gravando, o que é bem rápido comparando com hoje em dia. Levamos de 6 a 9 meses escrevendo músicas. Mas era muito boa aquela excitação de caras novos em uma banda, fazendo música. Era mágico e parecia um novo capítulo na história da banda. Anthony estava recém-sóbrio. Definitivamente era algo novo para nós, e eu amei. Eu pensei: ‘Isso é ótimo!’.
Fizemos uma pequena turnê pela Flórida. Literalmente, quando eu entrei na banda, eu tinha 20 dólares na minha conta bancária. E fizemos uma pequena turnê de 10 dias, e eu consegui 10.000 dólares. Eu pensei: ‘eu sou rico, porra’. Eu nunca vi tanto dinheiro assim, ou nada com “mil”. Eu não conseguia acreditar. Eu pensava: ‘Isso é demais! Meu Deus’. Foi incrível, como se eu tivesse ganhado na loteria. Foi demais.
Qual foi o último emprego regular que você teve? Você trabalhou em Los Angeles?
Eu trabalhei sim. Eu dormia no sofá de um amigo…Ele mudou para a Califórnia e estava trabalhando com produção de filmes, comerciais e videoclipes. Ele me arranjou em emprego em uma empresa chamada “Boyington Films”, que fazia comerciais e clipes de rock. O primeiro clipe de rock em que trabalhei – que foi apenas 1 mês depois que me mudei- foi para uma música do primeiro álbum solo do Keith Richards, “Talk is Cheap”. A música chamava “Take It So Hard”, e claro que eu sou um grande fã dos Rolling Stones. Haviam pequenas montanhas no cenário -feitas de papel alumínio e madeira compensada – que eu ajudei a fazer, e eu tinha que estar no estúdio, durante as gravações, em Hollywood. Eu estava tão animado, tipo ‘Wow….vou respirar o mesmo ar que o Keith Richards. Wow!’.
Eu estava torcendo para que ele não falasse para o diretor coisas como: ‘Oh, não acho que o ângulo da gravação está bom. Não acho isso ou aquilo’. Ele estava duas horas atrasado, e chegou tropeçando ao sair de uma limousine, com um saco grande de cocaína e um canivete nas mãos. E eu pensei: ‘Yeah, Rock N Roll”. Eles realmente plugaram seus instrumentos e tocaram, entre as gravações. Steve Jordan, pelo que me lembro, estava tocando baixo. Eu estava achando aquilo a melhor coisa do mundo. Eu trabalhei em alguns outros clipes, no departamento de arte. Ou seja: pegar café, arrumar as luzes, ajeitar os refletores, pintar um carro no clipe do Huey Lewis – qualquer coisa. Esse foi meu principal emprego antes de entrar para os Chili Peppers.
Aí começamos a fazer clipes para o “Mother’s Milk”. Fizemos nossos dois primeiros vídeos um após o outro, com a mesma empresa que eu trabalhei. Então, o mesmo diretor com quem eu estava trabalhando, agora estava dirigindo minha bateria. Eu dizia: ‘Deixa comigo’, e ele dizia: ‘não, não. Deixa comigo, é o meu trabalho. Você é o talento agora!’. Foi meio que uma mudança.
A melhor batida no álbum tem que ser “Magic Johnson”.
Deixa eu dizer algo sobre isso. Obviamente é uma marcha rítmica, e na verdade é a batida do ritmo de banda de desfile da escola do Flea e Anthony, Fairfax High School, em Hollywood. Acho que o Jack Irons, que tocou na banda antes de mim, tocou ela também porque ele estudou na Fairfax, então provavelmente é da onde ela saiu.
Mas, lembro que na época o nome dela era “Fairfax High”. Íamos editar as músicas, e eu voltei para Michigan para visitar minha família, por uma semana mais ou menos. Quando voltei, eu estava louco para ouvir as músicas, eles estavam adicionando ‘overdubs’ nelas. E o Anthony disse: ‘Oh cara, espere até ouvir o que fizemos com “Fairfax”. Ficou ótimo!’. E você tem que se lembrar: eu sendo do Michigan, sou um grande fã dos Detroit Pistons, certo? E amamos nosso basquete, obviamente. E esses caras eram fãs dos Lakers. Naquela época, os Lakers e os Pistons sempre iam para a final, e os Lakers derrotaram os Pistons em 1988. No ano seguinte, os Pistons voltaram e derrotaram os Lakers. Então havia essa rivalidade.
Então quando eu voltei e o Anthony disse: ‘Oh, você vai amar isso!’, eu disse: ‘Oh, legal. Mal posso esperar para ouvir’. Aí ele colocou a música para tocar…e dizia: “L.A. Lakers/ Fast Break makers..” (que significava que eles acabavam com todos os adversários), eu disse: ‘O quê?? O que é isso??Não! Eu odiei isso!’. Quer dizer, eu passei a amar os Lakers. Eu apoio eles, ao menos que eles joguem contra os meus Pistons, porque eu sou totalmente leal à minha cidade natal em todos os esportes.
Você teve que se aprofundar no punk rock para tocar a música “Punk Rock Classic”?
Sim, eu tive que estudar um pouco. Eles disseram: ‘Hey, ouça isso’. Eu lembro que o Anthony me deu uma fita cassete e disse: ‘nós fazemos algo mais pesado, algo mais punk, mas também com funk – é uma parte muito importante da nossa banda’. E eu lembro que ele me deu uma fita dos Meters e disse: ‘Escute Cissy Strut (do The Meters). Escute Funkadelic”. Eu conhecia essas bandas, mas tive que estudá-las. Eu gostava do Tower of Power, James Brown, e claro, Sly and The Family Stone, mas sim, eu tive que entrar de cabeça nessa coisa de punk rock. Reggae também. Eu não conseguia tocar uma batida de reggae sem cobrir meu rosto com um saco de papel. ‘Escute Bad Brains, cara. Bad Brains é a banda mais feroz que existe!’. Então sim, eu tive que fazer minha lição de casa.
Vocês tiveram alguma resposta do Stevie Wonder sobre o cover de “Higher Ground”?
Eu acho que o Flea viu ele em uma loja de música, e o empresário do Stevie levou Flea até ele, que estava sentado em um teclado, e disse: ‘Stevie, o Flea do Red Hot Chili Peppers está aqui!”. Eu não lembro exatamente como foi a conversa, mas Stevie disse: ‘Oh, claro. Eu ouvi a música’, e ele começou a tocar, porque a parte do baixo, no começo da música, é diferente da parte do clavinete. E se eu me lembro bem, o Flea me disse que o Stevie tocou a nossa versão (risos). Eu achei isso muito legal. Quer dizer, era muito popular. Stevie se sentiu lisonjeado, cara!
Alguma novidade sobre uma edição especial de 25 anos do álbum?
Sim, vai sair. Acho que vai ter algumas faixas bônus, como eles sempre gostam de fazer. Tenho quase certeza que vai ter um mix de um show ao vivo em Cleveland durante a época do Mother’s Milk, que provavelmente será em um disco bônus. Eu sei que será remasterizado, mas acho que as faixas bônus vão sair também. Não tenho certeza. Temos algumas coisas que não estão finalizadas, que as pessoas hoje em dia gostam de lançar, como o Jimmy Paige. Fiquei sabendo que tem uma versão alternativa de “Stairway To Heaven” saindo em breve (risos). Eu não sei, cara. Realmente fizemos uma versão de “Stairway To Heaven” para o Mother’s Milk, talvez deveríamos lançar antes que ele (Jimmy) lance” (risos).
Quais são os seus planos?
Estou entrando no estúdio. Vamos gravar novas músicas com os Peppers. Estamos fazendo umas “demos caprichadas”. Vamos lá e vemos o que temos. Irei gravar com o LL Cool J hoje, estou fazendo uma música com ele. Ele é muito positivo, um cara muito positivo. ‘Sim, cara. Vai ser ótimo. Você chega lá e dá o seu melhor. Vamos fazer história, cara’. Sou o cara mais sortudo do mundo. Tenho um emprego incrível.